quinta-feira, 7 de outubro de 2010

Loucos por café

Você começa se perguntando o que aquele cafezinho tinha de especial. Procura saber mais, passa a falar de café. De repente, virou um coffee geek!



      Um dia, eles tomaram um café excepcional e ficaram intrigados para descobrir o que havia de especial naquela bebida. Passaram a comprar grãos de melhor qualidade, testar outros métodos de preparo e estudar os processos de plantio e secagem do grão.

      Foram fazer cursos de barista, degustação, classificação e torra. Aos poucos, transformam a cozinha de casa em minicafeteria, com moinho, máquina de expresso e torrador. Nenhum deles vive disso. Café, para coffee geek, é hobby. "O geek original é o que faz por prazer, não por negócio. É quase uma devoção", explica o especialista Ensei Neto.

      No Brasil, o movimento é recente, ao contrário de países como Estados Unidos e Japão. "Conforme o mercado amadurece, há mais geeks", diz Neto.

      Gostar de café não torna alguém coffee geek. Seria como comparar um usuário de computador a um nerd que sabe tudo de hardware.

      "Há três tipos de coffee geek. O primeiro fuça equipamentos; o outro estuda o grão, além das máquinas; o terceiro foca no grão", diz Neto, que a pedido do Paladar fez um teste para medir o nível de "coffee geekismo".

      A autoria do termo é reivindicada pelo canadense Mark Prince, que há mais de dez anos criou o CoffeeGeek.com, site com informações sobre café, resenhas de máquinas e uma comunidade com quase 50 mil geeks. "Muitos deles são coffee geeks genuínos", diz Prince.

      No Brasil é um hobby caro. Os grandes moedores, torradores e máquinas de expresso profissionais vêm de fora. Mas isso não limita o prazer da funcionária pública Stella Bahiense, que odiava café até provar um com potencial e decidiu estudar. Fez curso de barista, de degustação, classificação e torra. Arrastou o amigo Márcio Carneiro, ainda mais geek que ela. "Gosto de experimentar métodos de preparo, degustar e testar temperaturas." Stella deixou de torrar porque, sem querer,"torrou" seu torrador caseiro. "Pus fogo nele. É uma porcaria, mas no início me ajudou a aprender, empiricamente."

      Os "itens de sobrevivência" de Stella foram com ela para o hotel em que está morando, enquanto reforma seu apartamento. A lista inclui um moinho grande, um moedor pequeno, "de viagem", máquina de expresso, tampers (para compactar o pó, inclusive um sob medida), french press e xícaras da Bodum - "tacinhas de cristal para café".

      "O passo mais avançado do cofee geek é comprar um torrador caseiro. Um cliente queria torrar em casa. Sugeri começar com a pipoqueira, para ver se gostava da brincadeira", diz Isabela Raposeiras, dona do Coffee Lab. Barista e mestre de torra, ela mostrou como torrar em uma pipoqueira infantil.

      Além de um torrador novo, Stella tem o mesmo sonho de consumo de dez em cada dez coffee geeks: a La Marzocco. "Um dia chego lá. Achei loucura, para alguém que tomava café havia quatro meses, pagar R$ 18 mil por uma máquina dessas."

      O advogado e professor de Direito Rodrigo da Cunha Lima Freire não achou loucura. Foi com um amigo visitar Paul Germscheid, representante da fabricante italiana de máquinas de expresso, e não resistiu à GS3. "Liguei para minha mulher, perguntei se tinha dinheiro na conta. E comprei. Se você pensar demais, não faz. O valor é proporcional ao tanto que me divirto com ela." O problema é que depois da GS3, o moinho de Freitas ficou desproporcional. Ele não sabia se comprava um automático, um manual ou se mandava fazer uma cozinha maior. Duas semanas depois da entrevista, mandou um e-mail: "Comprei um moinho K30 da Mahlkönig."

      "É uma estrada sem fim, não tem volta. Para o coffee geek, o céu é o limite", diz Ensei.



Fonte: Janaina Fidalgo
            Paladar - Estadão.com.br

Agradecimento: Luiz Pulino

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