Quando um americano pensa num bom café, possivelmente a primeira origem que lhe vem à mente é a Colômbia. Desde a década de 80, o país vizinho investe em ações de 'marketing' da bebida com foco no consumidor, o que ajudou a construir uma fama de produtor refinado. Já o Brasil, de longe o maior produtor e exportador da commodity, não goza do mesmo prestígio. A principal explicação para o descompasso é que, por décadas, o país esteve mais preocupado em ganhar volume nos negócios com o mercado internacional - e não se importava tanto em ser visto como exportador de um café mediano.
Mas isso tem mudado graças a articulação de produtores, investimento em tecnologia e, é claro, marketing. Em janeiro, a Bolsa de Nova York começou a negociar o café brasileiro tipo arábica lavado. É o início do reconhecimento de vinte anos de trabalho. "A aceitação deste tipo de café na bolsa de Nova York é uma prova de que a qualidade do produto brasileiro está sendo reconhecida. Os padrões da bolsa são para produções pequenas, de colheita manual. É o mesmo padrão do colombiano", explica Eduardo Heron, consultor do Conselho dos Exportadores de Café do Brasil (Cecafé).
O caminho para a consagração global, no entanto, é longo. O trabalho é contínuo e seus frutos, visíveis apenas no longo prazo. Mas o investimento em qualidade e beneficiamento do produto, além da promoção comercial propriamente dita, vale a pena. Assumir uma posição 'mais nobre' neste mercado significa ter maior poder de barganha para negociar preços no mercado internacional.
Das mais de 30 milhões de sacas de grão exportadas pelo país anualmente, apenas 3,9 milhões de sacas são de cafés finos. Considerando uma produção anual de 47 milhões de sacas, esse número poderia ser bem maior.
Diferentemente da Colômbia, o Brasil ainda não usou todo o poder do marketing para se firmar como um produtor de qualidade. Por outro lado, garantem os especialistas, já fez um belo trabalho no que diz respeito a melhoramento genético; adaptação das variedades de planta às diferentes características de solo, insolação e regime de chuvas; entre outras medidas. Soma-se isso à presença histórica da atividade na economia para se ter um quadro multifacetado: variedade de produto, desde os mais 'básicos' até os mais sofisticados; onze regiões produtoras, inúmeros microrregiões, etc. "Temos muitos tipos de café e toda essa diversidade dificulta um posicionamento único", explica Maria Fernanda Brando, consultora especializada em café.
Até poucos anos atrás, as ferramentas de divulgação do produto brasileiro no exterior eram fragmentadas, com algumas fazendas e regiões mais organizadas que outras. Para mudar esse quadro, representantes das principais regiões cafeeiras juntaram-se na Associação Brasileira das Origens Produtoras de Café. O novo órgão tem a função de promover internacionalmente todas as áreas produtoras sob o slogan "Um país, Várias origens". "Até hoje os americanos acham que o café brasileiro é produzido em Santos porque a maior parte da produção exportada é embarcada no Porto de Santos, com o carimbo de lá. (os americanos acham até hoje que a gente mora em cima de árvores na floresta, imagina se vão saber a origem do café...ai, ai)
O mercado de café especial no país expande-se a um ritmo de 15% ao ano no país, enquanto o normal cresce 2%, segundo a Brazil Specialty Coffee Association (BSCA) - associação focada em café finos, com 36 produtores certificados, a sua maioria do Cerrado Mineiro. "É um momento de transição na imagem do café brasileiro", afirma Eduardo Heron, da Cecafé. A boa notícia é que o país parece estar firme no caminho.
A matéria é da Veja Online, resumida e adaptada pela Equipe CaféPoint
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